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Postado Por : Unknown
domingo, 27 de julho de 2014
Medos e Fobias: Qual
a diferença e como tratar.
Autor: Jorge Augusto Govoni de Lacerda
CRP 08/16.801
É muito comum alguém falar de seus medos citando que “tem fobia de dentista”, “fobia de avião”, “fobia social”, “fobia de barata” ou “fobias estranhas”, como “fobia de sangue”, “fobia de líquidos” e “fobia de borboletas”.
Esse pode ser um assunto muito mal interpretado, nos dois sentidos: tanto um pode supervalorizar esse medo, chamando de fobia, enquanto outro pode ser satirizado por seu medo “irracional”, não tendo reconhecida e respeitada a condição fóbica.
Pretendo explicar a diferença entre medo e fobia, e elucidar com exemplos pontuais as distinções devidas.
Medo
Aprimorando e sintetizando a definição do Wikipedia para o medo: envolve uma série de respostas reflexas (ou seja, autônomas, as quais não se optam por emitir) emitidas por dado organismo a certo estímulo antecedente (auditivo, visual, verbal, cenestésico ou olfativo) ou contexto (situações mais complexas aonde estímulos se combinam).
Quando ocorre a resposta reflexa do medo, acontecem várias mudanças biopsicossociais no organismo amedrontado, tais como: indução de estado de alerta demonstrado pelo receio de alguma coisa, reações químicas hormonais (descarga de adrenalina no organismo), aceleração do sistema cardiorrespiratório, tremores, palpitações, “pensamentos negativos”, entre outros - tudo para sinalizar a iminência e possibilitar ao organismo fugir ou lutar.
tríplice contingência:
Estimulo = "Buh!" ---------- Resposta: = "AAAAAAAhhhhhhhh" ========= Consequência: Medo de ....
Logo que não se vê tão ameaçado ou que a ameaça é amenizada, o medo passa.
Você sente “medo de dentista”, por exemplo, quando age como eu: fica se segurando na cadeira, fecha os olhos e tem uma aceleração do sistema cardiorrespiratório quando o dentista liga aquela broca (como eu, talvez você lembre-se da sensação que foi a vez que um dentista pegou sua gengiva com a broca).
Em segundos, o medo se dissipa, e o organismo volta ao normal.
O mesmo vale para o “medo de amar” ou o “medo de avião”: como eu, você pode sentir um friozinho na barriga e um receio, começar a ter “pensamentos negativos”, tipo “e se fulana trair?! E se me mal tratar?!” ou “e se o avião cair!? E se tiver um terrorista a bordo?!”. São preocupações relativamente verdadeiras, é claro.
Todos já sabem quem já foi traído ou já passaram na pele por uma traição. E todos sabem que, apesar de relativamente seguros, se o avião cair ou explodir, é pequena a chance de sobrevivência.
Ou seja, o medo é uma reação PROPORCIONAL ,“CABÍVEL” e “RACIONAL”. (logo que ler a explicação para fobia, vai entender porque cabível e racional foram citadas entre aspas).
Note que o recruta esta com cara de assustado e com o corpo levemente inclinado para trás, proporcional a inclinação do oficial que esta passando um sabão
Em termos comportamentais: é medo quando existe proporcionalidade entre intensidade, duração, frequência e numero de respostas que o organismo amedrontado emite frente a ameaças.
Fobia
A fobia é um dos Transtornos de Ansiedade existente. Assim, Transtornos Fóbico-Ansiosos é o nome correto, segundo o site psiqweb (veja aqui), para 3 condições que compõem um grupo de transtornos nos quais uma ansiedade intensa é desencadeada por situações determinadas e que não representam algum perigo real. Por esse motivo estas situações fóbicas são evitadas ou suportadas com muito temor ou angústia.
Existem 3 tipos de Transtornos Fóbicos-Ansiosos: Fobia Social, Fobia Específica e Agorafobia.
Nesse artigo vou apenar citar a Agorafobia (literalmente, medo da ágora, as praças de mercado – trata-se de um nome antigo): é o medo generalizado de lugares ou situações aonde possa ser difícil ou embaraçoso escapar ou então aonde o auxílio pode não estar disponível.
Já a fobia social será tema aprofundado em outros tópicos futuros.
Como o medo, a fobia envolve respostas reflexas (ou seja, autônomas, as quais não se optam por emitir) emitidas por dado organismo a certo estímulo antecedente (auditivo, visual, verbal, cenestésico ou olfativo) ou contexto (situações mais complexas aonde estímulos se combinam).
A diferença da resposta Fóbica (a reação que a pessoa com fobia tem frente a um estímulo aversivo) para a resposta do Medo não é em termos das mudanças biopsicossociais no organismo, mas sim em termos da proporcionalidade entre intensidade, duração, frequência e numero de respostas que o organismo fóbico emite frente a ameaças ou inclusive sem estar frente à ameaça alguma.
Ou seja, o cliente emite comportamentos do quadro de Fobia Social ou Fobias Específicas (às vezes autodenominadas como fobias estranhas) como “Fobia de Borboletas”, por exemplo, quando:
1) O simples ato de ouvir falar sobre ou imaginar: seja ir a uma reunião ou festa OU uma borboleta voando acima de sua cabeça (isso se denomina Ansiedade Fóbica)
2) Ver vídeos de uma festa ou reunião de um desenho animado OU ver uma borboleta de plástico do kit de bichinhos de látex do sobrinho de 8 anos.
3) No exemplo da “fobia de dentista”, o simples barulho de algo que se assemelhasse a uma broca poderia eliciar a emissão da resposta fóbica.
O site Psiqweb traz uma distinção importante e fala da “Fobia como sintoma”: aparece como um medo imotivado e patológico, desproporcional e especificamente orientado para um determinado objeto ou situação. O que eles querem dizer é “a fobia existe como uma manifestação aguda”.
Assim, menciona-se também no Psiqweb que o Transtorno Fóbico-Ansioso se caracteriza pela prevalência de sintomas Fóbicos, ou seja, medo imotivado e patológico, desproporcional e especificamente orientado & persistente diante de um objeto ou situação específica. O que esta sendo dito é que trata-se de uma condição que é distinta por ter aspectos “crônicos” e trazer graves comprometimentos a vida laboral, pessoal e social aqueles acometidos.
Diretrizes e Critérios de Diagnóstico
para Fobia Específica:
|
A. Medo acentuado e persistente, excessivo ou irracional, revelado
pela presença ou antecipação de um objeto ou situação fóbica (por ex., voar,
alturas, animais, injeção, ver sangue).
B. A exposição ao estímulo fóbico provoca, quase que invariavelmente, uma resposta imediata de ansiedade, que pode assumir a forma de um Ataque de Pânico ligado à situação ou predisposto pela situação. Nota: Em crianças, a ansiedade pode ser expressada por choro, ataques de raiva, imobilidade ou comportamento aderente. C. O indivíduo reconhece que o medo é excessivo ou irracional. Nota: Em crianças, esta característica pode estar ausente. D. A situação fóbica (ou situações) é evitada ou suportada com intensa ansiedade ou sofrimento. E. A esquiva, antecipação ansiosa ou sofrimento na situação temida (ou situações) interfere significativamente na rotina normal do indivíduo, em seu funcionamento ocupacional (ou acadêmico) ou em atividades ou relacionamentos sociais, ou existe acentuado sofrimento acerca de ter a fobia. F. Em indivíduos com menos de 18 anos, a duração mínima é de 6 meses. G. A ansiedade, os Ataques de Pânico ou a esquiva fóbica associados com o objeto ou situação específica não são melhor explicados por outro transtorno mental, como Transtorno Obsessivo-Compulsivo (por ex., medo de sujeira em alguém com uma obsessão de contaminação), Transtorno de Estresse Pós-Traumático (por ex., esquiva de estímulos associados a um estressor severo), Transtorno de Ansiedade de Separação (por ex., esquiva da escola), Fobia Social (por ex., esquiva de situações sociais em vista do medo do embaraço), Transtorno de Pânico Com Agorafobia ou Agorafobia Sem História de Transtorno de Pânico. |
Para o Dr. Masci, Psiquiatra, (em artigo disponível aqui) “seis em cada dez pessoas com fobias conseguem se lembrar da primeira vez que a crise de medo aconteceu pela primeira vez, quando as sensações de pânico ficaram ligadas ao local ou situação em que a crise ocorreu. Para essas pessoas, há uma ligação muito clara entre o objeto e a sensação de medo”.
Posso exemplificar um caso de Fobia Especifica: o caso da pessoa emitindo resposta fóbica a borboletas - era uma mulher, já de certa idade (60 anos), que fez esse relato de sua infância, num local que tinha muitas borboletas em sua cidade natal – certo dia, brincando nesse local, um parente ou vizinho que cuidava dela lhe aterrorizou, falando que sua mãe lhe odiava, que ela era um problema, não valia nada.
Desse dia em diante, ela teve crises graves de resposta reflexa do medo ao pensar em ou ver uma borboleta: indução de estado de alerta demonstrado pelo receio de borboletas, reações químicas hormonais (descarga de adrenalina no organismo) ao ver ou imaginar borboletas, houve também aceleração do sistema cardiorrespiratório, tremores, palpitações e “pensamentos negativos”, que foram tanto relatados quanto presenciados por minha pessoa uma vez.
Seu coração saltou como se quase tivesse caído de um desfiladeiro. Ela ficou suando e disse “Eu sei que esse medo é ‘irracional’, ‘incabível’. Mas sei lá, vê se isso era coisa pra se falar para uma criança? Que a mãe não gostava dela?! Isso tudo me marcou, não consigo controlar....”.
Ou seja, a pessoa acaba em auto-estigmatização. Estigmatização, para o Dicionário Aurélio é:
1. Acusar como autor de ação infame; censurar, verberar: Estigmatizaram injustamente o governador.
2. Censurar, acoimar, condenar: "para estigmatizar não só a hipertrofia militarista, mas a própria instituição da guerra." (Ricardo Jorge, Sermões dum Leigo, p. 132).
3. Qualificar pejorativamente; apodar, tachar: Estigmatizou-o de infame.
Se usarmos termos como “fobias estranhas”, “medo irracional” e “medo incabível”, não é possível compreender o paradoxo que a linguagem impõe a tal questão: dizer que o comportamento de fobia social ou fobia de borboletas é irracional ou incabível é uma afirmação falsa e limitada.
Devemos dizer apenas que os comportamentos fóbicos são desproporcionais – é essa desproporção entre intensidade, duração, frequência e numero de respostas que o organismo fóbico emite frente a ameaças que o leva a auto-estigmatização, e consequentemente a afirmar erroneamente que seu comportamento é “irracional” e “incabível”. A pessoa se culpa por não conseguir se controlar.
Mas como eu mencionei no caso da fobia de borboletas, e como o Dr. Masci mencionou sobre os fóbicos, muitos sabem muito bem quando ocorreu a origem da condição fóbica. E ela muitas vezes esconde “emparelhamento de estímulos”: foi o caso da fobia de borboletas.
As borboletas que costumeiramente revoavam o local da brincadeira se tornaram um estimulo emparelhado ao estimulo aversivo verbal do vizinho ou parente que cuidava da menina.
Além disso, é necessário falar da “função do comportamento”: a reação fóbica é, muitas vezes, funcional para quem emite respostas fóbicas (ao menos no momento de sua geração, algumas vezes é também funcional sua manutenção – para elucidar o que é funcional, um exemplo é quando ganha apoio social após crises de fobia – ou seja, a resposta fóbica é sucedida de certa consequência recompensadora). Assim sendo, o organismo que emite respostas fóbicas foi ou pode ainda ser obter ganhos ao emitir tal resposta.
Então, as respostas fóbicas não são, de modo algum, “incabíveis” nem “irracionais”, pois tem uma função especifica de proteger um organismo frágil de ameaças para quais ele não tem estratégias de enfrentamento mais eficientes para empregar.
A técnica mais recomendada para o tratamento da fobia, é a dessensibilização sistemática. Numa progressão em gradiente de menor grau de aversividade até maior grau de aversividade, clientes são exposto a estímulos eliciadores de manifestações fóbicas, a fim de tornar seus comportamentos insensíveis aos estímulos aversivos, assim tais estímulos vão sendo desemparelhados do perigo e perdendo força como estímulos aversivos (veja video aqui de dessensibilização ao dentista).
Devo frisar que essa técnica só deve ser aplicada por profissionais da área, que possam oferecer o devido apoio ao cliente. Não recomendo que tente fazer isso em casa. Até porque recomenda-se aqueles acometidos pela fobia fazerem Psicoterapia.
Outro ponto importante em salientar: se algum psicólogo lhe disser que você “tem fobia”, cuidado! Responda-me uma questão, para elucidar minha perspectiva: se você “tem fobia”, aonde em você ela esta localizada?
Talvez você responda mente, sensações, pensamentos, sentimentos, lembranças. Eu não diria que nenhuma esta errada, diria que todas estão. Na verdade não é possível de fato saber se a fobia esta em nada disso, pois nada disso é palpável nem observável. Assim, é a parte empírica, observável e pública sobre você a qual é possível analisar e modificar: a fobia esta localizada no seu comportamento. Logo, você não pode se acusar nem ser acusado de “ter fobia”.
Por isso acredito na psicologia comportamental como uma ciência da libertação: você não pode e não deve permitir ser vitimado pela forma por qual o contexto ou os estímulos moldaram seu comportamento. Analise funcionalmente junto a um psicólogo comportamental sua fobia, você vai aprender muito sobre a sua condição.
Aos “fóbicos” eu diria que eles “não têm fobia”, mas “emitem respostas fóbicas”. Ou seja, a resposta fóbica é empírica, observável, manuseável e uma condição transitória e possível de ser modificada - não um atributo permanente de você, como uma doença crônica.
Um abraço a todos!